quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A PASSAGEM DE ANTONIO CONSELHEIRO POR ITAPICURU

“Itapicuru foi uma das regiões de maior significação histórica na trajetória de Antonio Conselheiro pelo sertão baiano onde permanece viva, de forma intensa na memória popular, a consciência de sua marcante atuação”. Em ênfase a passagem por estas terras baianas é preciso relacionar diversos autores que citam a figura de Antonio Conselheiro por Itapicuru. A exemplo do escritor peruano Mario Vargas Llosa, autor do livro “A Guerra do Fim do Mundo”, livro que depois dos “Sertões” de Euclides da Cunha, é considerado o maior Best Seeler, escrito sobre a saga de Canudos. Percorreu “Os Sertões de Canudos” vindo ao Itapicuru acompanhado do antropólogo Renato Ferraz. Esteve na sede do município e visitou a residência do Barão de Jeremoabo, o Sobrado do Camuciatá, descrevendo no seu livro o escritório do Barão, tornando-o personagem fictício do seu livro. Na sua visita ao “Camuciatá”, disse que não poderia deixar de conhecer o Itapicuru, porque ele considerava o município aonde primeiro chegou a Bahia o Conselheiro, como o Portal de Canudos. Foi no Itapicuru no ano de 1874, que vindo de sua terra natal o Ceará, percorrendo os sertões do nordeste pelo vizinho Estado de Sergipe, atravessou o Rio Real e penetrou na Bahia. Segundo a tradição chegou ao Itapicuru numa terça-feira, dia de Santo Antonio, com seus acompanhantes, arranchando-se numa casa de nome Miguelzinho. Começaram as rezas do terço no fim da tarde e o ofício de Nossa Senhora na madrugada. A cantoria altas horas, desagradou a população da Vila, surgindo reclamações que foram apresentadas ao delegado, Boaventura da Silva Caldas, seu Boa, como era conhecido, que estava numa das suas propriedades no dia da chegada do Conselheiro e seu séquito. Procurou entrar em entendimento com o grupo, sem alcançar bom êxito. Continuou, entretanto as orações e aumentando o número de participantes. Se de um lado o delegado condenava os excessos do grupo, o vigário Cônego Agripino, apoiou ao Conselheiro, criticando do púlpito a atitude do delegado, mandando silenciar os rezadores. Segundo Euclides da Cunha a trajetória de Conselheiro em áreas nordestinas, cita a Vila de Itapicuru e sobre a fundação do Arraial de Bom Jesus, hoje a cidade de Crisópolis. Nessa região encontrou o líder carismático ambiente propicio à sua pregação onde permaneceu por longos anos, até que preso em Itapicuru e conduzida a capital baiana, sendo posteriormente enviado ao Ceará de onde regressou mais tarde internando-se novamente nos sertões desse Estado onde prossegue na sua obra missionária, sempre imbuído dos mesmos propósitos que a conduziram a fazer pregações, a orar, a construir cemitérios, a verberar contra a República e o casamento civil, enfim a cumprir os objetivos a que se propôs, ao colocar-se ao lado dos pobres necessitados. O relacionamento do Cônego, permitia que o Conselheiro fosse padrinho, em diversos batizados, tendo em vista inúmeros registros nos livros de batismo da freguesia. Na busca que efetuei, nos livros paroquiais da Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré do Itapicuru de Cima, visando relacionar as oportunidades em que Conselheiro apareceu como padrinho ou testemunha, obtive os seguintes dados:

ANOS ______________ BATIZADOS
1880___________________05
1884___________________07
1885___________________02
1886___________________10
1887___________________02
1890___________________14
1891___________________45
1892___________________07
Total: _________________92

Euclides da Cunha assinala as frequentes visitas do beato a Itapicuru, dizendo, entretanto a Vila de Itapicuru esteve para ser o fecho da sua carreira extraordinária. Foi ali naquele mesmo ano entre o espanto dos fiéis, inopinadamente preso.
Portanto, a presença do Conselheiro em Itapicuru é um episódio memorável da religiosidade popular e expresso de forma evidente em várias manifestações dos seus habitantes.

VIDEOS RETRATANDO A SAGA DE ANTONIO CONSELHEIRO

sábado, 22 de agosto de 2009

HISTÓRIA VIVA


Estudar a história é fazer uma viagem no tempo e no espaço. Essa viagem começa hoje. Nosso destino é o futuro. Para chegar lá, temos que visitar o passado e procurar onde está o mapa do tesouro com informações sobre como desembarcar na estação “Futuro Melhor”. O que devemos levar? Cada dia vamos acrescentar alguma coisa em nossa bagagem e, no fim do ano, estaremos de malas prontas... Quanto tempo dura a viagem? Muito tempo, uma vida.
A disciplina história ministrada nas séries finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, tem como, principal desafio para os alunos: refletir, analisar e problematizar a história enquanto parte integrante da vida de cada aluno, de forma a possibilitá-los uma compreensão sistemática e crítica da realidade.
Considerando a História como uma disciplina viva e elaborada a partir do presente, faz-se necessário re-pensar o seu ensino no interior dos acontecimentos da atualidade, identificando e refletindo sobre novos valores, possibilitando, desta forma, que os alunos compreendam o seu próprio papel no mundo partindo do envolvimento e análise daquilo que estão vivenciando.
A história deve ser vista e entendida como um passado dinâmico em constante mutação, onde cada indivíduo é parte integrante desta história, bem como co-responsável por ela. Tal conhecimento, permite os alunos questionarem a realidade em que vivem, organizarem seu pensamento quanto ao seu estar no mundo, sob as possibilidades de transformações, entre outros.
Cabe ao professor de história, planejar suas aulas de acordo com o que é vivido pelos alunos, deve contextualizar os acontecimentos passados no presente, deve pensar em conjunto com seus alunos. Os alunos devem ser estimulados a utilizar questionamentos, Como? Porque? Para que?
Portanto, desta forma o ensino de história estará estimulado e ajudando o aluno a interagir com o mundo que o cerca, adquirindo uma capacidade de visualizar o que está em sua volta de uma nova forma, não sendo mais um receptor passivo de informações.

A IMPORTÂNCIA DE ESTUDAR A HISTÓRIA DO COTIDIANO E LOCAL


A importância do estudo da história local está na tentativa de fazer com que o educando reaprenda e valorize a historicidade de sua comunidade e, de sua própria história. Mostrar ao educando que o mesmo é partícipe da história e torná-la importante é o principal desafio do professor. Desmitificar o ensino de história desconstruindo o tradicional de simples memorização sistemática de datas e fatos ocorridos, para construção de um estudo participativo, investigativo e crítico da realidade histórica das comunidades e seus membros.
Ao fazer um estudo da história local o ensino de história ganha um novo sentido, e o envolvimento da comunidade e dos alunos fazem com que aja um maior interesse, pois estarão redescobrindo sua própria história e cultura. A introdução da história como objeto de estudo escolar requer que se explorem as possibilidades inerentes do cotidiano, sem se limitar a constatar o “real” ou as motivações possíveis para alunos pouco sensibilizados com a história escolar mais tradicional. “O cotidiano deve ser utilizado como objeto de estudo escolar pelas possibilidades que oferece de visualizar as transformações possíveis realizadas por homens comuns, ultrapassando a ideia de que a vida cotidiana é repleta e permeada de alienação” (BITTENCOURT). Portanto, ao inserir a história local através do estudo do cotidiano, o professor consegue aproximar realidade com a história, trazendo significado para o aluno, contribuindo na sua formação para a vida valorizando, respeitando e resgatando as diversas culturas existentes na comunidade.


Foto do Sobrado do Engenho do Camuciatá – Integração entre professores e alunos (Visita ao Acervo do Patrimônio Cultural de Itapicuru/BA).

ITAPICURU, TUDO É HISTÓRIA


Itapicuru, um dos municípios mais antigos da Bahia, é um caminho para a História: a sua colonização, através das sesmarias, aos primeiros desbravadores e a sua saga; e o começo: o aldeamento indígena, a primeira capela, a sua igreja, o convento franciscano, a Missão da Saúde. Tudo em Itapicuru é história; passado e presente, um e outro inseparáveis; e é nessas terras que desbravadores portugueses chegaram através da distribuição das sesmarias feita pelo rei de Portugal.
Itapicuru, antigo povoamento indígena e a respeito dessa aldeia, a historiadora Consuelo Pondé de Sena narra em seu livro mediante depoimento do Presidente da Província da Bahia de 01 de maço de 1851, encontrado relatório sobre estado das aldeias dos índios da Província da Bahia, sua população e civilização.

COMARCA DE ITAPICURU

“Aldêa de Na. Sa. da Saúde de Itapicuru tem 131 índios. A doação hé de meia légua de terra em quadro da qual pouca os índios ocupão, por não querem dar-se ao trabalho da lavoura. Convém apropriar a Nação a maior parte deste terreno ocupado por particulares ao título de renda que não paga, salvo os pequenos sítios, que poucos índios cultivão: os mais delles trabalhão por salário, alguns plantão milho e feijão”. (SENA, p. 28, 1979)

Itapicuru nome de origem indígena (Tupi-Guarani) que quer dizer laje caroçuda, pelas espécies de rochas encontradas pelos indígenas na região. Antigo povoamento indígena, que foi habitada pelos Kariris, Payayás e Tupinambás.
A origem desta remonta a meados do século XVII quando no local em 1636, existia uma missão franciscana denominada Saúde ou de Santo Antonio foi erigida uma pequena Capela em 1698, com nome de Nossa Senhora de Nazaré do Itapicuru de Cima, consoante petição dirigida ao rei pelo vigário Giraldo Correia de Lima, que começou a receber côngrua a partir de 1700. Assim é que, uma Carta Régia foi dirigida ao vice-rei do Brasil, solicitando notícias sobre a localidade de Itapicuru para ver se tinha condições de ser elevada vila. Estando dentro das condições previstas para merecer tal promoção, fora freguesia elevada a Categoria de Vila pelo vice-rei do Brasil, Conde Sabugosa em 28 de abril de 1728. Portanto, estudar a história do nosso velho Itapicuru nos faz reviver no passado do legado histórico do nosso município e relacionarmos com o presente.


Foto de Itapicuru no princípio do sec. XIX.